Passeio como nunca antes visto

O Al Ain venceu o Yokohama F. Marinos por 5 a 1 (6 a 3 no agregado) e conquistou a AFC Champions League. Um jogo marcado por polêmicas com a arbitragem, mas que não abordarei neste texto.
Aqui quero colocar o que vai além da derrota do Marinos. O dia de hoje é uma derrota para o Japão em diversos aspectos e de diversas maneiras que escancaram os diversos problemas do futebol japonês…e alguns até do Japão como sociedade e país. Quem somos nós, brasileiros que falharam como sociedade querendo apontar os erros do Japão, né? Mas eles precisam ser falados hoje.
Começo dizendo do claro racha com a AFC, a confederação asiática de futebol, que mais parece confederação árabe de futebol…e não falo apenas do erro crasso da arbitragem de hoje, que expulsou injustamente o goleiro William Popp e permitiu a elasticidade do placar. Falo também de diversas decisões de diretoria que dão clara vantagem ao rico futebol árabe e ao bilionário futebol saudita.
Está cada vez mais claro que a gestão do barenita Salman Bin Ibrahim Al-Khalifa, que agora pode ficar no poder o tempo que quiser, visa apenas os clubes situados no Oriente Médio e não medirá esforços para favorecer o desenvolvimento do futebol naquela região, esquecendo-se de grandes mercados como China, Índia e Austrália, para não citar a Coreia do Sul e o Japão.
Porém a JFA sempre foi passiva com relação a esse tema e nunca quis rachar com a confederação continental…está na hora de fazer isso. A ACL Elite ter fase final em um único país vai na contramão de todos os princípios de isonomia dentro do futebol de clubes. É completamente diferente do Mundial de Clubes e da Copa do Mundo! E qual seria a surpresa em dizer que o primeiro país a sediar tal evento é logo A ARÁBIA SAUDITA!
Tendo isso dito, o Japão precisa retomar o protagonismo e liderar, ao lado de Coreia, China e Austrália, uma confederação nova apenas voltada para o extremo oriente, o que hoje é a AFC East. Se o senhor Al-Khalifa que desenvolver o futebol do Oriente Médio, que o faça sozinho!
Agora, isso também passa por mudanças dentro do próprio futebol japonês. A derrota do Marinos também é uma derrota da J.League, é uma derrota minha! Neste exato momento, páginas e jornalistas gigantescos estão repercutindo apenas o placar e os gols do jogo. A imagem que fica é que a J.League é um campeonato de várzea…nenhum deles vai buscar saber que o Yokohama foi prejudicado com uma expulsão injusta e contava com 10 jogadores somente marcando um competentissimo e veloz Al Ain!
Ou seja, todo o trabalho que desenvolvi até hoje para mostrar que o futebol japonês é bom, competitivo, capaz de bater de frente com outros níveis de elite, tudo isso vai pelo cano porque a J.League Insider não tem o alcance do Vulgão, do Leo Bertozzi, entre outros. Pessoalmente, sinto meu trabalho jogado no lixo. E isso corrobora para que na temporada que vem, a ESPN continue mostrando só os sauditas nas fases iniciais e escalando comentaristas despreparados (exceto Ubira e Donke), para comentarem as pouquissimas partidas que passam.
Olhando pelo lado do futebol como negócio, o Japão foi revolucionário montando uma liga tão preparada e organizada quanto a J.League nos anos 1990 e conseguiu manter o nível pelos 30 anos seguintes, mas hoje em dia o futebol é mais negócio como nunca e é inviável manter uma liga que perde suas principais promessas à preços baixissimos, quando não de graça.
Está na hora de o Japão, como um todo, rever as politicas tributarias e financeiras ligadas ao futebol para conseguir comprar e vender em condições iguais com outros mercados. Não tem como manter uma liga que o maior reforço da história custou 11 milhões de euros enquanto a maior venda foi 19 EM 2008!!! O Japão perdeu Mitoma, Kubo, Doan, Itakura, Tomiyasu, Endo…todos esses deixaram o país por menos de 10 milhões de euros…um absurdo
Hoje, ligas como a Bundesliga tem um sistema de formação de jogadores, venda, compra e até licenciamento de produtos e direitos de transmissão modernos e que fazem o campeonato ser transmitido por SETE emissoras no Brasil, enquanto a J.League está presa no mesmo modelo desde 1993.
Hoje o poder da J.League é só respeitado no extremo oriente, nem na Ásia inteira a liga é vista como modelo…e nós estamos falando de quem teve Zico e Andrés Iniesta!!!
Está na hora dos cartolas japoneses se modernizarem! Entregar o bastão à uma nova geração com novas ideias para ‘bombar’ a liga! Cartolas que ajudem os clubes e nãos os limitem, como hoje. A J.League precisa mudar internamente, para mudar externamente!
Falando pessoalmente, sinto que voltei à estaca zero…vou ter que remar tudo de novo para provar que o futebol japonês merece seu lugar ao sol, remar contra uma AFC tendenciosa, contra um futebol cada vez mais desnivelado e marketeiro e contra os dirigentes japoneses que limitam o potencial que a liga tem a oferecer.
Sobre o jogo em si, não há muito o que falar. Desde antes da expulsão de Popp, o Marinos vinha jogando abaixo, mas logo quando começava a melhorar, foi roubado pela equipe de arbitragem que caiu na onda do ‘piscineiro’ com muita qualidade, Rahimi. Após isso, o desgaste foi grande e o goleiro Shirasaki mostrou o porque estava na JFL.
Yokohama perde a taça e a chance de disputar o Mundial e talvez tenha jogado fora a última chance real de o Japão levantar a taça pois o super-dinheiro saudita e as benécies da AFC devem produzir uma hegemonia árabe no continente asiático.