O Yokohama de Kewell

Na última quarta-feira (24), o Yokohama F. Marinos se classificou para a final da AFC Champions League, a maior competição de clubes da Ásia, pela primeira vez com o atual nome (já havia chegado em 1989, mas ainda sob a alcunha de Nissan FC), após vencer o Ulsan HD da Coreia do Sul nos pênaltis.
O feito deve ser amplamente comemorado pela torcida do Marinos, mas o intuito deste texto, assim como o desta coluna, não é destacar o jogo em si e avaliar como foi esta vitória, mas sim trazer uma análise tática do que o australiano Harry Kewell, treinador do Yokohama, preparou para o duelo contra os sul-coreanos.
A ESCALAÇÃO
Para os 11 iniciais, o australiano contava com os retornos do lateral-esquerdo Katsuya Nagato (supensão) e do ponta brasileiro Élber (contusão), mas também realizou alterações com relação ao que foi a primeira partida em Ulsan. A entrada do coreano Nam Tae-hee na vaga de Jun Amano já dizia um pouco do que Kewell esperava para o jogo.

Nagato e Élber foram as soluções necessárias para corrigir as fraquezas que o Marinos apresentou em Ulsan. O camisa 2 tem uma caracteristica defensiva superior a Taiki Watanabe, que o substituiu na partida de ida, além de possuir uma maior visão de jogo, o que propiciou algumas alternativas. Já o brasileiro, que foi substituido por Ryo Miyaichi, tem um estilo mais similar ao futebol de onde veio, com o 1x1 sendo o ponto forte do camisa 7.
Só de ver os 11 iniciais, dava pra perceber que Kewell iria pra cima desde o primeiro minuto e não abriria margem para o contra-golpe.
O 4–2–3–1 QUE VIROU 3–2–4–1
Pelos primeiros 30 minutos de jogo, o Yokohama F. Marinos aplicou um dominio completamente superior ao adversário, o Ulsan quando pegava a bola, não conseguia avançar muito.
Isso se deve ao fato da mobilidade que Kewell apresentou à equipe, tornando o que aparentava ser um 4–2–3–1 em um 3–2–4–1.

O avanço de Uenaka para agir mais ofensivamente ao lado de Nam, somados ao recuo de Sakakibara para formar uma linha de 3 defensores ao lado de Hatanaka e Kamijima, permitiram com que Matsubara e Nagato, os laterais, tivessem o meio de campo livre para armarem as jogadas e servir a linha de 4 à frente, com Élber e Yan Matheus indo mais à linha de fundo, enquanto Uenaka e Nam serviam como “segundos-atacantes”.
Foi assim que os 3 gols do Marinos sairam antes mesmo dos 30 minutos da etapa inicial. O primeiro com uma construção pela direita com Yan Matheus e a aparição de Nam e Uenaka dentro da área. Gol do camisa 14.
O segundo veio de uma movimentação mais interessante ainda, Nam abriu para a ponta e abriu um espaço para que Élber armasse a jogada pelo meio, Yan Matheus rapidamente inverteu seu lado do campo, o que confundiu a marcação, e recebeu sozinho com tempo de achar Anderson Lopes entre os defensores.
Já o terceiro contou com a pressão do sistema defensivo, com o “volante” Nagato dando o primeiro combate e Hatanaka completando o desarme e armando um ataque mortal, mais um passe de Nam e mais um gol de Uenaka. A fatura parecia liquidada.
UMA EXPULSÃO INJUSTA E UM NOVO PADRÃO TÁTICO!
Aos 35 minutos, o Ulsan diminui com o brasileiro Matheus Sales e apenas 3 minutos depois, o árbitro iraniano Alireza Faghani marcou um pênalti de Kamijima após a bola tocar o braço do defensor.
Na humilde opinião do redator, um pênalti muito mal marcado e uma expulsão sem o menor sentido, por se tratar de um movimento natural para um carrinho, além de ser o braço de apoio do jogador

Repare na imagem acima, que o braço do defensor segue tocando o chão e o toque na bola é completamente involuntário!
Vida que segue, Marinos com um homem a menos e com todo o segundo tempo pela frente. Kewell precisa mudar tudo!

Com o placar agregado em 3 a 3 e um homem a mais, o Ulsan se lançou ao ataque para tentar o 3º gol no jogo, o que eliminaria de vez o Marinos. Kewell precisa recompor a zaga, mas prefere esperar o final do primeiro tempo, para isso, Matsubara vira zagueiro e Sakakibara um “lateral completamente zagueiro”, retomando a linha de 4 defensores e trazendo Nam e Uenaka para a função de volantes, com Élber e Yan Matheus sendo as “válvulas de escape”.
Por um breve momento dá certo e o Marinos segura por mais 20 longos minutos o placar.
O SEGUNDO TEMPO DEFENSIVAMENTE PERFEITO
Para a segunda etapa, Kewell decide trocam Nam e Élber, recompondo a zaga com Eduardo e colocando um meio-campista mais defensivo com Riku Yamane.

Yamane, embora mais defensivo, também tinha a missão de tentar (por um milagre) puxar um contra-golpe e fazer a bola chegar em Anderson Lopes, que permanecia isolado no ataque.
Desta forma, o time conseguia recompor com a mobilidade de Sakakibara à frente da linha de 4, enquanto Yamane e Uenaka conseguiam ampliar uma área de cobertura e Yan Matheus dava apoio à Matsubara pelo lado direito.
O Marinos continuou sofrendo e, o mais importante, soube sofrer. A mobilidade dos volantes foi a arma para impedir os avanços do Ulsan.

Com a saída de Uenaka para a entrada de Ren Kato, um lateral, Kewell conseguiu repetir a dobradinha de sucesso do lado direito (Matsubara e Yan Matheus), sendo assim, Yamane e Sakakibara ganhavam o território na parte interior, enquanto as laterais contavam com a proteção extra de Yan e Kato.
A partir desse momento, o Marinos conseguiu conter o Ulsan e segurar o resultado levando o jogo para a prorrogação!
TEMPO EXTRA: VERSATILIDADE E ENTREGA
Na prorrogação, vendo o cansaço dos jogadores dos dois times, Kewell consegue uma estrategia incrível, trocar seu principal volante por um articulador.
Assim, Kota Mizunuma entra na vaga de Sakakibara e Ryo Miyaichi entrou no lugar de Yan Matheus, ambos esgotados fisicamente.
Ainda mais pro final Nagato saiu para dar lugar a Jun Amano, outro articular, mas este por motivos de penalidades.

Se engana quem pensa que o time ficou ofensivo demais, muito pelo contrario, Amano e Mizunuma mostraram toda a versatilidade e a entrega pela equipe, realizando uma marcação central mais próxima e, ao recuperar a bola, conseguirem armar algumas possibilidades de ataque bem promissoras.
Harry Kewell observou muito bem as caracteristicas dos jogadores que tinha à disposição para alterar o esquema tático para o que a partida pedia de seu time e conseguiu segurar uma partida, que parecia perdida, para as penalidades máximas.
Aí foi confiar na capacidade dos jogadores! Todos os 5 escolhidos marcaram e o goleiro William Popp, que também foi destaque no tempo normal, pegar o último pênalti do Ulsan HD e colocar o Yokohama F. Marinos de Harry Kewell na final da AFC Champions League!