Kosei Tani: A Reviravolta e o Ensinamento
Na madrugada desta quinta (29), o técnico Hajime Moriyasu convocou os atletas que defenderão a seleção japonesa na próxima Data FIFA, mas um nome chama a atenção nesta lista, o goleiro Kosei Tani.
Vindo de uma safra de bons goleiros jovens japoneses, Tani surgiu em 2018 quando foi promovido ao time principal do Gamba Osaka ainda aos 17 anos e frequentando as seleções de base do Japão.
Durante dois anos, foi reserva de Masaaki Higashiguchi, mas foi emprestado em 2020 para o Shonan Bellmare, também como forma de ter ritmo de jogo e ser convocado para os Jogos Olímpicos de Tokyo.
Ficou no Bellmare por dois anos e realmente foi convocado para as Olimpíadas, sendo muito elogiado inclusive.
Em 2023, é emprestado pelo Gamba ao FC Dender, da segunda divisão belga, como parte do “sonho europeu”. Assim como muitos atletas japoneses, Tani viu no Dender o começo de seu caminho na Europa.
Se enganou. O Transfermarkt indica que Tani disputou apenas DUAS partidas pelo clube belga, na primeira parte da campanha que promoveu a equipe para a Pro League Belga.
Esquecido na Bélgica, perdeu espaço dentro dos próprios Samurais Azuis e viu novos goleiros chegando como Keisuke Osako, Zion Suzuki, entre outros.
Aqui a carreira de Kosei Tani nos da uma valiosa lição. Muitos atletas japoneses jovens estão trocando a J.League por, literalmente, qualquer clube europeu. Sem plano de carreira e sem garantias de que terá minutagem para escalar as estantes europeias.

Em 2012, o meia croata Mihael Mikic, concedeu uma entrevista à Sports Graphic Numeber e falou sobre a falta de visão e de plano de carreira dos jovens japoneses que sonham com a Europa.
“Por que os jovens jogadores japoneses querem ir para a Europa, sendo que o nível da J.League é alto? Isso eu não consigo entender. Temos estádios e um clima maravilhoso com os torcedores e o gerenciamento dos clubes é perfeito. A qualidade dos jogos também é boa. Então por que eles precisam ir para clubes inferiores aos da J.League?”, indagou Mikic.
Na época, Mikic falava sobre as transferências de Hajime Hosogai (Urawa Reds para Augsburg), Tomoaki Makino (Sanfrecce Hiroshima para Colônia) e Eiji Kawashima (Kawasaki Frontale para Lierse).
“Eu entendo se houver uma proposta de um clube grande, como foi com o Shinji Kagawa no Borussia Dortmund. Mas a história é outra se não for um clube assim. Pelos 12 anos que joguei na Europa, posso dizer que a qualidade de clubes como Augsburg e Colônia ou do Campeonato Belga são inferiores à J.League. Não consigo entender por que eles pensam que ir para qualquer lugar na Europa é bom.”
O que vemos acontecer hoje em dia é o exodo dos atletas japoneses que Mikic relatou em 2012, mas cada vez mais jovens e com menos planos do que na época da entrevista.
O caso de Kosei Tani é simbólico. Um destaque da J.League, que poderia assumir a vaga de titular no Gamba Osaka e na seleção japonesa, mas que se escondeu na segunda divisão belga e perdeu a chance da vida, tudo em nome do “sonho europeu”.
Retornamos à entrevista de Mikic. “O nível da J.League é muito superior se comparado ao Campeonato Croata. Apenas o Dínamo Zagreb tem força para competir na Europa, mas os outros times estão cheios de problemas de gerenciamento e de salários atrasados. Enquanto isso, o Kashima Antlers é um clube grande no Japão e muito bem administrado. Não deveria ter nenhum motivo para alguém trocar o Kashima pelo Hajduk Split”
Curiosamente, o Dinamo Zagreb teve na temporada passada Takuro Kaneko e agora tem Takuya Ogiwara.
“Inoha voltou para a J.League em fevereiro deste ano, e o Makino, que era meu colega de time, também deixou o Colônia e se transferiu para o Urawa. Acredito que eles entenderam que não existe uma diferença tão grande assim entre a J.League e a Europa. Daqui para a frente, eu gostaria que os jovens percebessem isso desde o início, e não depois de estarem lá”, fechou o croata.

É claro que a Europa é o sonho, é o lugar com os melhores jogadores, com os maiores clubes e com a visibilidade gigantesca, mas casos como Kosei Tani nos mostram a necessidade de um plano de carreira, principalmente para jogadores jovens.
De nada adianta estar jogando na Europa, se você está em um clube que não tem condições de te oferecer um projeto estruturado, como Haruya Fujii e o próprio Takuro Kaneko, que agora jogam no Kortrijk, clube que briga contra o rebaixamento na Bélgica.
Para o nível de projeção ser o esperado, é preciso estar em um clube capaz de competir contra os grandes, até mesmo dentro do país. Ogiwara, por exemplo, está no Dínamo Zagreb, mas estará na UEFA Champions League…uma baita projeção pra ele, mas e os outros?
A Championship é até uma boa ideia! A segunda divisão inglesa consegue entregar bons jogos e também disputa a FA Cup. O futebol inglês como um todo é muito visto.
Mas a pergunta que fica é a mesma que Mikic fez lá atrás…será que não vale à pena ficar na J.League e esperar uma proposta melhor da Europa do que sair arriscando logo de primeira?
Kosei Tani é uma das provas de que a Europa nem sempre é tão convidativa. O goleiro do Machida Zelvia quase jogou a carreira no lixo por esse inexplicável sonho europeu e teve que voltar à J.League para ser lembrado na lista.
Outros como Ao Tanaka, seguem presos na segunda divisão da Alemanha, e tem o caso do Hatate, que embora esteja no maior clube escocês e disputando a Champions League, parece preso no Celtic, quando poderia já estar em clubes maiores e com mais visibilidade.
Que os jovens parem de se mirar só nos poucos japoneses que fizeram sucesso na Europa e criem um plano de carreira antes da transferência. Sejam protagonistas no Japão e sejam criteriosos na hora de dar o primeiro passo no velho continente.
Kosei Tani quase jogou tudo fora, mas teve a competência de dar a volta por cima no Machida, assim como Yuta Nakayama parece estar fazendo…
Nem sempre será assim!