Ayrton Senna do Brasil…e do Japão
Em um dia como hoje, há 30 anos atrás, o mundo se despedia de um dos maiores pilotos de todos os tempos. Dia 1º de maio de 1994, Ayrton Senna da Silva morria após colidir em alta velocidade na variante Tamburello, no GP de Ímola, e ter a coluna de direção de sua Williams perfurando a proteção do capacete e causando uma lesão cerebral irreversivel.
Pessoalmente, eu nunca vi Senna correr. Quando nasci, ele já estava morto há mais de 4 anos, mas eu aprendi desde pequeno quem foi Ayrton Senna através do meu pai, talvez o segundo maior fã do piloto, atrás apenas de Lewis Hamilton. Minha paixão pelo automobilismo e, principalmente, pela Fórmula 1, vem da influência de meu pai.
Senna foi um grande herói para o povo brasileiro, lembro de ter estudado, na faculdade de jornalismo, a reportagem de seu cortejo fúnebre e que parou São Paulo. Lembro de uma senhora que disse “nós não temos educação, saúde, segurança, não temos nada, só tinhamos a alegria de ver ele ganhando e levando a bandeira…hoje a alegria foi embora”.
Precisamos lembrar que, em 1994, o Brasil não vencia a Copa do Mundo há 24 anos, tinha saído há pouco do periodo da ditadura militar, passado por uma híper-inflação, o Brasil viu seu dinheiro ser confiscado pelo Presidente Collor e estava vendo aos poucos o Plano Real ser estabelecido, enquanto se preparava para eleger Fernando Henrique Cardoso como Presidente da República e começar os anos dourados que terminaram no mandato de Dilma.
O Brasil era um país completamente perdido, começando a tomar uma direção, um país ignorado pelo mundo, tratado como terceiro mundo, uma selva cheia de macacos que só sabem pensar em Festa, Futebol e Carnaval, mas que era reconhecida quando Senna vencia e ostentava com orgulho a nossa bandeira verde-amarela.
Mas eu aposto que tudo isso, toda a idolatria, todo o sentimento que o brasileiro tem por Senna, você já sabe e já conhece. Por isso, quero apresentar um outro lado de Ayrton Senna, o Airuton Sena, do Japão.
A parceria entre Senna e Japão em 1987, quando a Honda assume o posto de fornecedora de motores da Lotus, aonde Ayrton era companheiro de equipe de Satoru Nakajima, uma parceria que se extendeu para os anos de McLaren e que só foi se encerrar em 1993, quando a Honda se retira da Fórmula 1 e a McLaren de Senna assina com a Ford.
Nas 6 temporadas motorizado pela Honda, Ayrton Senna venceu todos os seus 3 campeonatos mundiais de Fórmula 1 (e 1 que foi roubado na mão grande por Jean-Marie Balestre). Foram 96 corridas com 46 pole positions, 33 vitórias, 13 voltas mais rápidas e 56 pódios. Senna, motorizado pela Honda, JAMAIS ficou abaixo da 4ª colocação do mundial de pilotos.
Esse sucesso fez Senna cair nas graças da Honda. O brasileiro não só vencia as corridas, como também auxiliava os engenheiros da montadora japonesa com os feedbacks e a total atenção que David Coulthard, piloto reserva de Senna na Williams, sempre fez questão de destacar.
Sempre a estrela nos eventos de uma das maiores marcas do Japão, fez com que Senna ganhasse o respeito dos japoneses e começasse a ser cada vez mais convidado pelos programas japoneses quando estava no país. Em 1992, a Fuji TV realizou o Senna Day e Ayrton, gentilmente, participou de diversos programas da rede.
Um dos detalhes mais interessantes de Senna e que é destacado, não só pelos japoneses, é como Ayrton era humano, sem fazer questão de parecer perfeito. Ayrton sempre foi o mais humano dos “deuses” que os japoneses admiravam.
Ao mesmo tempo que doava seu dinheiro para ajudar crianças no Brasil e doava seu tempo aos inúmeros fãs que lhe pediam um segundinho de atenção, Senna também mostrou sua face competitiva ao bater de frente com Balestre em 1989 e, em 1990, quando teve a oportunidade, tirou Prost da pista sem pensar duas vezes. E depois, ainda mostrou certo arrependimento de sua atitude.
Senna ajudou a Fórmula 1 a se sacramentar no Brasil, colocando mais uma pedra de sucesso na torre iniciado por Emerson Fittipaldi, mas no Japão, Ayrton pavimentou o caminho e abriu as portas para mais um país se apaixonar pela velocidade. Seu legado, no Japão, foi carregado por pilotos que, embora não tenham tido sucesso na F1, deixaram sua marca no mundo do automobilismo.
No Japão, Senna realizou 8 provas de Fórmula 1, 7 em Suzuka e 1 em Aida (Okayama), venceu todos os seus campeonatos lá (inclusive o roubado por Balestre). 4 poles e 2 vitórias, jamais chegando abaixo da P2 quando conseguia completar a prova. Se Senna era especial para o Japão, o Japão também era especial para Senna.
Um dos destaques do Japão é a seriedade do povo japonês. Os jonalistas da NHK são preparados para relatarem as notícias de maneira séria e calma, mesmo no pior dos terremotos, orientando os japoneses a seguirem os protocolos de segurança (diferente do Brasil, onde na maior emissora do país, uma certa “jornalista” dança enquanto o povo morre na pior epidemia de dengue de nossa história). Essa seriedade foi quebrada POUQUÍSSIMAS vezes e uma delas foi em Maio de 1994, quando os apresentadores precisaram dar ao Japão a notícia que Roberto Cabrini já havia passado para os brasileiros com as palavras marcadas na história do jornalimso brasileiro.
“A médica Maria Teresa Fiandri comunica a todos os jornalistas aqui no hospital Maggiore de Bolonha, que Ayrton Senna da Silva está morto. Morreu Ayrton Senna da Silva.”
Os três japoneses, sempre tão sérios, sucumbiram às lágrimas e se abraçaram, chorando como três crianças que buscavam entender ainda o conceito da morte.
Isso para um japonês é completamente incomum, não por serem um povo frio, estão longe disso, mas por serem ensinados a não expressar os sentimentos da mesma maneira que nós. O verdadeiro significado de “Eu te amo”, Aishiteiru, raramente é usado por famílias, que preferem usar o Daisuki, algo como “Eu te adoro”. Mas naquele momento, naquele 1º de maio, aqueles 3 jornalistas não tinham nada de diferente do meu pai, que mesmo aos 24 anos, chorava a morte de um ídolo.
Ayrton Senna da Silva foi mais uma ponte entre o Brasil e o Japão, foi mais um a aproximar esses dois povos tão distantes e tão diferentes. Neste dia, que sua morte completa 30 anos, nós nos lembramos não das últimas curvas em Ímola, mas sim de todas as alegrias que Senna nos deu, brasileiros e japoneses.
Eu, como disse, nunca vi Senna, mas escrevi este texto às lágrimas, por saber como esse cara, que eu nunca vi, conseguiu unir tanta gente!
本当にありがとうございました!Muito obrigado, de coração!
Esteja sempre em paz, Ayrton Senna, do Brasil e do Japão!